Esta comunicação propõe uma análise iconográfica da estatuária funerária, no caso os bustos memoriais, instalados em monumentos construídos em cemitérios do Brasil, datados dos séculos XIX e XX, período em que se reiniciou a proliferação do retrato, seja em forma de busto, seja em fotografia de porcelana. Sabe-se que ao longo da história da humanidade, a sociedade ocidental sempre teve necessidade de retratar seus mortos, uma maneira de resguardar sua memória e como forma de afirmação social diante dos vivos. As maneiras de como essas representações são elaboradas dependem do local, do período ao qual o morto pertence e de suas relações sociais, tanto no âmbito público quanto privado. Existe uma série de características dos retratos, tipicamente burgueses, identificados nos bustos aqui analisados como a pose do retratado, sua indumentária, os atributos agregados no busto, enfim, todos os elementos que compõem a representação do retratado eram pensados como forma de afirmar, mais do que beleza ou a memória, a posição social do retratado. Segundo Annateresa Fabris (2004, p. 30), nesse contexto de construção de uma identidade social, acessórios e cenários não devem ser analisados em termos de ilusão realista e nem mesmo de busca de efeitos plásticos. Seu verdadeiro âmbito é a simbologia social: cenário e vestimenta constituem uma espécie de “brasão burguês”, no nosso caso póstumo. Para equacionar a leitura e análise dos dados, os resultados das primeiras observações foram dispostos seguindo uma classificação voltada à feitura material do retratado; seus artesões/ escultores; seus modos de representação dentro do contexto de época. Coube refletir sobre esse “busto de características da raça ariana”, que reproduz os valores da cultura européia e o padrão de beleza clássica advinda da arte greco-romana, neoclássica e realista.
Palabras claves: Estatuária funerária; retrato burguês; cemitérios brasileiros; século XIX e XX.
Autores: Borges, Maria (Universidade Federal de Goiás, Brazil / Brasilien)