Esta apresentação traz questões relacionadas ao projeto de museu digital que tem por objetivo criar arquivos digitais e exposições virtuais sobre a memória dos brasileiros afro-descendentes. A criação de uma política de resistência a ser travada a partir de um dos mais poderosos meios de comunicação, sem que este signifique a afirmação de uma identidade racial, traz à tona facetas importantes da relação entre poder e representação.
No Brasil, a construção da memória nacional tem sido muito pouco generosa com a contribuição dos afro-descendentes. A construção identitária, contudo, ainda é polêmica em um país que não se identifica em termos raciais, mas a partir de um imenso leque de características relativas a traços físicos. Não obstante esta diversidade, observa-se a associação existente entre sinais negativos e indivíduos que apresentam traços mais próximos de seus ascendentes africanos. O preconceito opera desqualificando e estigmatizando o indivíduo.
É importante disponibilizar acervos que dizem respeito à historia, à cultura e ao cotidiano das populações afro-descendentes. Os meios de comunicação e informação hoje são considerados recursos básicos de cidadania, pois eles possibilitam inserção política, social e econômica. Contudo o impacto de uma nova mídia em cada sociedade depende da acessibilidade da população e esta, por sua vez, depende do grau de democracia adquirida por cada sociedade.
O Brasil está entre as nações que apresentam os maiores índices de desigualdade social do mundo, e o acesso à internet ainda é privilégio de poucos. Apesar dos desafios, a criação de mais um fórum público sobre o tema poderá incentivar a participação de uma parcela da população que tem sido excluída dos discursos tradicionais de construção da nação. v
Palavras-chaves: memória, patrimônio, afro-descendente, relações raciais, museus
Autores: Santos, Myrian (Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brazil / Brasilien)